[Giorgio Venturini] me chamou para trabalhar e me propôs coisas que não eram bem o que eu queria. Porém, Il Boia di Lilla, por exemplo, me interessava muito pelo mundo de Dumas visto de uma outra perspectiva, isto é, visto numa só página. Em outras palavras, não Os Três Mosqueteiros, mas a história de Milady, que é narrada em um par de páginas: o seu passado, a história do irmão do carrasco de Lille que ela corrompeu e todo o resto. Nisto, eu introduzi um elemento irônico, que nascia em mim a partir dos meus estudos de Brecht. Eu buscava o estranhamento, da forma que era possível obtê-lo: e eu era um louco, porque o cinema leva ao sonho, à identificação com o herói da história. Se nós ironizamos e continuamente criamos fraturas para que o espectador possa examinar os acontecimentos e julgá-los, nós matamos o cinema. E, assim, as minhas experiências brechtianas me levaram à catástrofe final, que foi I Cento Cavalieri em 1964. As minhas tentativas nesse sentido começaram imediatamente, assim que me vi perante personagens fantasiados e com espadas nas mãos: neles, eu via o belo e o ridículo. Nada melhor do que os filmes de capa e espada para se estabelecer, ainda que de forma um pouco desordenada, os contrastes e as contradições do heroísmo e da covardia, do amor e do sacrifício, do erotismo e do interesse.
– Do catálogo da Cineteca di Bologna, Ai poeti non si spara: Vitorio Cottafavi tra cinema e televisione. A cura di Adriano Aprà, Giulio Bursi e Simone Starace.