Uma das lições mais avarentas desta última guerra foi a de um egoísmo agressivo, inicialmente adotado como defesa e depois transformado em um instinto natural do indivíduo – conferindo-lhe, é certo, uma segurança impiedosa, mas que o deixa em uma nova solidão, sem esperança.
Há algum tempo eu amadurecia a ideia de, após os dramas da guerra, dar forma a esta tragédia do pós-guerra: a tragédia desta solidão agressiva e desumana, já sem mitos, que, transferindo o mundo inteiro para dentro da criatura, dá-lhe a orgulhosa certeza de poder viver ignorando o amor, a humildade, a compreensão e que, reduzida aos seus termos extremos, era, uma vez mais, com uma orientação diversa mas com um significado antiquíssimo, a luta entre Criador e criatura.
Já tendo encontrado a intérprete que poderia dar à personagem uma realidade absoluta, em Stromboli – que desmentia os clichês afetados da "ilha feliz" – eu encontrara os termos naturais da linguagem dramática. Se a protagonista era um caso limite, a ilha era outro. Reduzida a história que a minha personagem dispunha-se a viver à sua nudez mais esquemática, tendo centrado a tragédia sobre ela e o seu tormento, a natureza e o seu terror hostil e adverso de um lado e os homens e sua incompreensão do outro tornavam-se os únicos elementos necessários de contraponto, e Stromboli fornecia-os à perfeição.
Assim, os esquemas da tragédia antiga pareceram-me os únicos possíveis para dar vida a essa luta entre Criador e criatura.
A personagem-protagonista é a mulher, cínica e egoísta, que enfrenta aquele duplo percurso silencioso: os homens com a sua incompreensão mesquinha, e a natureza hostil e adversa. Ignorado, invisível mas onipresente, o seu antagonista: Deus.
É contra ele que, na sua postura contraditória, a protagonista luta, rebelando-se contra a multidão; em luta a cada instante, entre os seus sentimentos de revolta orgulhosa e de negação e os de submissão obediente que dita-lhe a desconhecida voz interior oculta em sua alma.
Deus, seu antagonista, revelar-se-á apenas ao final, quando terá triunfado sobre a multidão e sobre a protagonista, conduzindo-a ao vértice do seu desespero escaldante, para submetê-la a invocar a luz da Graça que a liberte da sua desumana solidão.
– ROBERTO ROSSELLINI
In: R. Rossellini, Il Mio Metodo – Scritti e interviste. A cura di Adriano Aprà. Marsilio Editori, 1987, Veneza.
Originalmente publicado em "Film", #31-32, 16 de agosto de 1950.
Traduzido do Italiano por Gabriel Carvalho.