THE FOUNTAINHEAD
King Vidor, 1949
Inspirada na vida e na obra de Frank Lloyd Wright, essa adaptação do romance de Ayn Rand, não sendo o mais convincente, é sem dúvidas o filme mais significativo e mais pessoal de Vidor. Sua maior audácia está no fato de Vidor deliberadamente usar essa matéria biográfica e romanesca para construir não um romance ou um drama, mas uma alegoria filosófica, um poema abstrato onde cada personagem representa uma ideia, uma entidade, onde cada um encarna um valor ou um não-valor no interior do credo vidoriano. Wynand representa o poder ilusório, a não-criatividade: ele acredita manipular multidões, quando na verdade é manipulado por elas. Toohey, o crítico, representa a demagogia intelectual e política que necessita de uma impessoalidade e de uma uniformidade coletivas para assentar o seu poder. Dominique, ela representa uma outra aspiração ilusória e perigosa: a busca pela liberdade absoluta que a leva a querer destruir dentro de si o amor e a admiração que são nossos laços naturais com o mundo. Ao personagem de Roark cabe o papel capital de representar o criador independente em cuja ação encarnam-se as forças vivas do universo. É através dele que Vidor erigiu o seu elogio – mais metafísico que moral – da integridade, do individualismo e de um orgulho que dá ao homem essa centelha divina através da qual ele sente-se superior a qualquer matéria. Apenas esse individualismo divino é capaz de servir à sociedade, à multidão, já que toda outra forma de poder serve-se dela e a subjuga. Assim, vemos o orgulho de Dominique criticado como sendo negativo e destrutivo, enquanto o de Roark é elogiado pelo seu caráter criativo. Esse duelo de abstrações, esse embate de titãs, Vidor o quis pintar num estilo declamatório e solene, no limite da grandiloquência. Paradoxo: esse poema à glória do individualismo pouco se preocupa em descrever os indivíduos; essa evocação de um erotismo "bigger than life" que liga os dois heróis não tem quase nenhuma intensidade carnal. Por isso que Vidor situou a ação em cenários imensos, geométricos e gélidos; ainda que vestidos a rigor e com trejeitos modernos, os personagens que neles se deslocam lembram mais heróis bíblicos ou faraós do Egito antigo. Uma certa asfixia reina absoluta na narrativa: a massa de cidadãos ordinários, que é o que está em jogo nesses combates titânicos – e Vidor sabe descrevê-la admiravelmente quando quer – é totalmente ausente.
– JACQUES LOURCELLES
Traduzido do Francês por Gabriel Carvalho.